segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Obrigatório de prateleira #1 - V de Vingança


Queria a muito tempo ter uma coluna de síntese de clássicos impressos obrigatórios pra qualquer coleção de quadrinhos, e sem dúvida, depois de ver o filme, fiquei obcecado por ler V de Vingança <o> e pra não falar bobagem, convidei meu amigo Pablo do Emulador de Críticas pra inaugurar essa seção :)
Obs.: Quaisquer erros ortográficos, atirem as pedras em quem escreveu #bahtrineh

V de Vingança e seu alfabeto de experimentos
Por Pablo Sarmento
Eai pessoal...
Essa é a primeira vez que escrevo pro blog do Pimenta e, durante nossas conversas ele disse que me cederia espaço para algumas análises, as quais também faço no meu blog. Pensando em não deixar o conteúdo nos dois lugares iguais, resolvi fazer algo mais completo e tentar me aprofundar um pouco mais nas obras.
A obra que irei falar nesse post é extremamente conhecida e foi um pedido do Pimenta: V de Vingança ou V for Vendetta no seu original. Escrita pelo aclamado Alan Moore e desenhada pelo grande David Lloyd, ela foi lançada em forma colorida na Vertigo em meados de 1988.
A história por de trás das paginas.
Originalmente Lloyd e Moore começaram a escrever a revista em 1982 até 1983 para a revista Warrior, em edições com no máximo cinco paginas em preto e branco, mas acabou não sendo finalizada, pois a revista faliu. A DC Comics que foi atrás do autor da série exatamente por causa do trabalho em V de Vingança, pediu para os autores retomarem o trabalho na série colorindo e finalizando a obra.
A forma que foi criada a história é muito legal, pois durante as reuniões entre Moore e Lloyd eles tentavam fazer uma história de super-herói moldando uma forma nova de lançar o tema. Alan Moore, muito jovem, já tinha ideias loucas e tentava entrar em consenso com o desenhista para a história ser mais crível possível, chegando a ponto de, numa reunião, Moore sugerir um herói transsexual que deixou seus editores boquiabertos.
Após muito conversarem, eles chegam a uma ideia inicial: Lloyd trás a mascara de Guy Fawkes e ainda a ideia de não usar nenhuma onomatopeia e nem balão recordatório, e com Moore trás toda a bagagem da cultura pop da época (literária, musical, política), transformando a obra em algo que ainda não tinha sido visto. Alan ainda brinca numa entrevista que a ideia de usar a letra V para denominar o personagem principal certamente era dele, pois era dele que vinham todas as ideias boas, mas Lloyd poderia trazer no mínimo 8 testemunhas dizendo que a ideia era dele. Alan Moore ainda conta que única vez que seu roteiro foi negado por Lloyd, foi a melhor que coisa que aconteceu para história. Acho que isso mostra o quando a equipe criativa estava totalmente entrosada.
Vamos à história e entenderemos um pouco V

A narrativa da história é dividida em três tomos ou atos, logo, vou analisar cada parte para poder aprofundar um pouco no trabalho e na ambientação a que V nos leva.
Tomo Um: Europa Após o Reino.
Neste tomo, temos a apresentação dos personagens e a explicação da distopia que estamos sendo ambientados. Após a 3° guerra mundial a Inglaterra está sendo guiada por um tipo de governo forte, que oprime o povo e que está estagnado. Esse governo é dividido em varias classes: olhos que cuidam das câmeras que monitoram o povo tempo inteiro; ouvidos que fazem o trabalho de escuta e tentam destruir qualquer tipo de contra partidário; boca que faz os pronunciamentos diários sobre como o governo vem trabalhando; nariz que é a inteligência; dedos que são a força militar e destino que é o líder do partido.
Em 1997, somos apresentados a V (homem que usa uma mascara do Guy Fawkes) que é um tipo de terrorista que explode o parlamento nas primeiras paginas da revista e a Evey que é uma menina de 16 anos que estava tentando se prostituir pela primeira vez, pois seus pais tinham morrido e o herói a salva antes de os homens do dedo estuprarem a garota. Após esse fato, V tem a garota como um tipo de discípulo do homem.
O nariz começa a trabalhar em cima do ato terrorista e Finch é o homem designado para o trabalho, pois o ato terrorista é o estopim para que V comece a assassinar algumas pessoas ligadas ao governo e todas com alguma ligação a um campo de reabilitação (por varias vezes eles começam falando concentração na frase). O governo tirou de circulação todos os negros, homossexuais e pessoas que não fossem católicas para esse campo de reabilitação onde aconteciam muitas atrocidades, tudo pelo pela superioridade da raça nórdica.
O primeiro tomo se desenrola nessa apresentação, dado algumas indicações de como nasceu V e do que o motivou a chegar até onde está e sua paixão em tentar reavivar o sentimento do “faça o que quiser”.
Tomo Dois: Este Vil Cabaré.
Esse tomo começa de forma bem inusitada, o prelúdio dele é todo em quadros horizontais e com uma partitura em cima dos quadros de uma musica que, se eu não me engano, foi criada pelos autores.
Após essa parte, que eu acho bem inusitada para época em que foi escrito, V dança com Evey que se nega a ajudar em assassinatos, mas que se sente muito feliz em morar com ele na galeria das sombras (Nome da casa do V). Ele venda Evey e a leva para fora da galeria e lhe leva de volta a realidade e, o que acontece? A garota tem mais uma vez lutar para sobreviver.
Ao Mesmo tempo, mais uma vez V ataca o governo e leva uma fita de vídeo que transmite para o povo de dentro da voz, criticando diretamente a falta de vontade e que estão sendo oprimidos porque querem. Ele dá dois anos para o povo tomar uma decisão e ir contra o governo ou se não...
Finch está à beira da loucura, pois V tinha assassinado uma amiga muito querida dele, e ele descobriu por meio do diário dessa amiga, o que acontecia no nos campos e está questionando: se governo em que trabalha é realmente certo e se realmente o terrorista está errado em atacar de forma tão dura.
Passa-se algum tempo e Evey está morando com um homem bondoso e que trabalha traficando bebida. Ela se apaixona por ele e eles começam a viver felizes, até que mais uma vez o destino transforma a garota em vitima e ela perde seu amor. Durante uma noite em que a menina vai quebrar sua regra de não matar, ela é presa e levada para um campo de reabilitação (ou pelo menos queriam que ela pensasse isso).
Durante essa passagem na prisão Evey é ligada diretamente a V e querem uma confissão dela. Ela, dentro da sua cela, encontra uma carta escrita em papel higiênico contando a história de Valerie, uma atriz homossexual que foi caçada e levada para o campo de reabilitação. Essa carta, muito tocante, faz Evey entender a causa e que ela não deveria desistir do ideal a qual ela seguia. Nesse momento ela é solta e você descobre que quem a mantém no cativeiro é V, que estava testando a garota para saber o quanto estava engajada na luta pela liberdade.
Tomo Três: A Terra do Faça o que Quiser.
Este é a ultima parte da história e o acho que parte mais legal de toda a história, pois tu consegues entender todos os planos que V tinha para Evey e para ele próprio.
Aqui, V começa mostrar para Evey que o ideal que ele persegue deve ser passado a outra pessoa e que a mascara representa um ideal muito maior do que a pessoa por trás da mascara. Ele ainda mostra para ela que estava  um passo a frente de tudo que o governo veem fazendo.
Neste tomo o governo entra em colapso após V destruir os prédios dos olhos e ouvidos e as pessoas terem liberdade para fazer o que quiserem sem ter a sombra do governo em cima deles, ou seja, acontece o caos dentro da cidade e uma guerra civil se arma nas ruas de Londres.
Após uma viagem de LSD, Finch consegue se libertar de tudo que estava atormentando sua cabeça e se vê livre. Ele volta para Londres e busca V e atira nele e lemos a frase mais legal de toda a revista: “Não há carne ou sangue neste manto para morrerem. Há apenas uma ideia. Ideias são à prova de bala”.
Com o terrorista baleado ele vai até Evey e faz seus últimos pedidos: um funeral viking e que não tire a mascara dele quando morrer. Ela entende que o símbolo é mais importante do que quem veste a mascara e se torna o novo V que irá ajudar o povo nesta nova trajetória.

Conclusões
Pra mim, essa obra é tão bem amarrada e tão bem feita que ganha um lugar de muito destaque na minha estante. Moore e Lloyd demonstram uma técnica aguçada no ritmo da história. Existem histórias paralelas durante a história central que são importantes para melhor entender tudo que acontece nessa distopia. Os diálogos são extremamente bem escritos, o monologo do V com a estatua da justiça é algo memorável.
Você encontra referencias a todo o momento durante a leitura, sendo legal tu ir lendo e ter um Google aberto para poder ver de onde Moore tira as ideias, e olha que o cara vai longe.
Eu comprei essa revista no relançamento que teve há alguns meses atrás e é um investimento totalmente retornado, tamanha a experiência positiva. Ela custa bem pouco e se tu não quiseres perder tempo indo para banca, corra até os “becos da internet” e leia, mas pra mim nada supera ter o encadernado em mãos, pois ele trás alguns extras bem legais, como por exmplo Introdução do Lloyd, entrevista do Alan Moore, estudo de personagens e um glossário bem legal.
Espero que gostem dessa primeira analise e em breve eu volto.
Até...

 
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