Queria a muito tempo ter uma coluna de síntese de clássicos impressos obrigatórios pra qualquer coleção de quadrinhos, e sem dúvida, depois de ver o filme, fiquei obcecado por ler V de Vingança <o> e pra não falar bobagem, convidei meu amigo Pablo do Emulador de Críticas pra inaugurar essa seção :)
Obs.: Quaisquer erros ortográficos, atirem as pedras em quem escreveu #bahtrineh
V de
Vingança e seu alfabeto de experimentos
Por Pablo
Sarmento
Essa é a
primeira vez que escrevo pro blog do Pimenta e, durante nossas conversas ele
disse que me cederia espaço para algumas análises, as quais também faço no meu
blog. Pensando em não deixar o conteúdo nos dois lugares iguais, resolvi fazer
algo mais completo e tentar me aprofundar um pouco mais nas obras.
A obra
que irei falar nesse post é extremamente conhecida e foi um pedido do Pimenta:
V de Vingança ou V for Vendetta no seu original. Escrita pelo aclamado Alan
Moore e desenhada pelo grande David Lloyd, ela foi lançada em forma colorida na
Vertigo em meados de 1988.
A
história por de trás das paginas.
Originalmente
Lloyd e Moore começaram a escrever a revista em 1982 até 1983 para a revista
Warrior, em edições com no máximo cinco paginas em preto e branco, mas acabou
não sendo finalizada, pois a revista faliu. A DC Comics que foi atrás do autor
da série exatamente por causa do trabalho em V de Vingança, pediu para os
autores retomarem o trabalho na série colorindo e finalizando a obra.
A forma
que foi criada a história é muito legal, pois durante as reuniões entre Moore e
Lloyd eles tentavam fazer uma história de super-herói moldando uma forma nova
de lançar o tema. Alan Moore, muito jovem, já tinha ideias loucas e tentava
entrar em consenso com o desenhista para a história ser mais crível possível,
chegando a ponto de, numa reunião, Moore sugerir um herói transsexual que
deixou seus editores boquiabertos.
Após
muito conversarem, eles chegam a uma ideia inicial: Lloyd trás a mascara de Guy
Fawkes e ainda a ideia de não usar nenhuma onomatopeia e nem balão
recordatório, e com Moore trás toda a bagagem da cultura pop da época
(literária, musical, política), transformando a obra em algo que ainda não
tinha sido visto. Alan ainda brinca numa entrevista que a ideia de usar a letra
V para denominar o personagem principal certamente era dele, pois era dele que
vinham todas as ideias boas, mas Lloyd poderia trazer no mínimo 8 testemunhas
dizendo que a ideia era dele. Alan Moore ainda conta que única vez que seu
roteiro foi negado por Lloyd, foi a melhor que coisa que aconteceu para
história. Acho que isso mostra o quando a equipe criativa estava totalmente
entrosada.
Vamos à
história e entenderemos um pouco V
A
narrativa da história é dividida em três tomos ou atos, logo, vou analisar cada
parte para poder aprofundar um pouco no trabalho e na ambientação a que V nos
leva.
Tomo Um:
Europa Após o Reino.
Neste
tomo, temos a apresentação dos personagens e a explicação da distopia que
estamos sendo ambientados. Após a 3° guerra mundial a Inglaterra está sendo
guiada por um tipo de governo forte, que oprime o povo e que está estagnado.
Esse governo é dividido em varias classes: olhos que cuidam das câmeras que
monitoram o povo tempo inteiro; ouvidos que fazem o trabalho de escuta e tentam
destruir qualquer tipo de contra partidário; boca que faz os pronunciamentos
diários sobre como o governo vem trabalhando; nariz que é a inteligência; dedos
que são a força militar e destino que é o líder do partido.
Em 1997,
somos apresentados a V (homem que usa uma mascara do Guy Fawkes) que é um tipo
de terrorista que explode o parlamento nas primeiras paginas da revista e a
Evey que é uma menina de 16 anos que estava tentando se prostituir pela
primeira vez, pois seus pais tinham morrido e o herói a salva antes de os
homens do dedo estuprarem a garota. Após esse fato, V tem a garota como um tipo
de discípulo do homem.
O nariz
começa a trabalhar em cima do ato terrorista e Finch é o homem designado para o
trabalho, pois o ato terrorista é o estopim para que V comece a assassinar
algumas pessoas ligadas ao governo e todas com alguma ligação a um campo de
reabilitação (por varias vezes eles começam falando concentração na frase). O
governo tirou de circulação todos os negros, homossexuais e pessoas que não
fossem católicas para esse campo de reabilitação onde aconteciam muitas
atrocidades, tudo pelo pela superioridade da raça nórdica.
O primeiro
tomo se desenrola nessa apresentação, dado algumas indicações de como nasceu V
e do que o motivou a chegar até onde está e sua paixão em tentar reavivar o
sentimento do “faça o que quiser”.
Tomo
Dois: Este Vil Cabaré.
Esse tomo
começa de forma bem inusitada, o prelúdio dele é todo em quadros horizontais e
com uma partitura em cima dos quadros de uma musica que, se eu não me engano,
foi criada pelos autores.
Após essa
parte, que eu acho bem inusitada para época em que foi escrito, V dança com
Evey que se nega a ajudar em assassinatos, mas que se sente muito feliz em
morar com ele na galeria das sombras (Nome da casa do V). Ele venda Evey e a
leva para fora da galeria e lhe leva de volta a realidade e, o que acontece? A
garota tem mais uma vez lutar para sobreviver.
Ao Mesmo
tempo, mais uma vez V ataca o governo e leva uma fita de vídeo que transmite
para o povo de dentro da voz, criticando diretamente a falta de vontade e que
estão sendo oprimidos porque querem. Ele dá dois anos para o povo tomar uma
decisão e ir contra o governo ou se não...
Finch
está à beira da loucura, pois V tinha assassinado uma amiga muito querida dele,
e ele descobriu por meio do diário dessa amiga, o que acontecia no nos campos e
está questionando: se governo em que trabalha é realmente certo e se realmente
o terrorista está errado em atacar de forma tão dura.
Passa-se
algum tempo e Evey está morando com um homem bondoso e que trabalha traficando
bebida. Ela se apaixona por ele e eles começam a viver felizes, até que mais
uma vez o destino transforma a garota em vitima e ela perde seu amor. Durante
uma noite em que a menina vai quebrar sua regra de não matar, ela é presa e
levada para um campo de reabilitação (ou pelo menos queriam que ela pensasse
isso).
Durante
essa passagem na prisão Evey é ligada diretamente a V e querem uma confissão
dela. Ela, dentro da sua cela, encontra uma carta escrita em papel higiênico
contando a história de Valerie, uma atriz homossexual que foi caçada e levada
para o campo de reabilitação. Essa carta, muito tocante, faz Evey entender a
causa e que ela não deveria desistir do ideal a qual ela seguia. Nesse momento
ela é solta e você descobre que quem a mantém no cativeiro é V, que estava
testando a garota para saber o quanto estava engajada na luta pela liberdade.
Tomo
Três: A Terra do Faça o que Quiser.
Este é a
ultima parte da história e o acho que parte mais legal de toda a história, pois
tu consegues entender todos os planos que V tinha para Evey e para ele próprio.
Aqui, V
começa mostrar para Evey que o ideal que ele persegue deve ser passado a outra
pessoa e que a mascara representa um ideal muito maior do que a pessoa por trás
da mascara. Ele ainda mostra para ela que estava um passo a frente de tudo que o governo veem
fazendo.
Neste
tomo o governo entra em colapso após V destruir os prédios dos olhos e ouvidos
e as pessoas terem liberdade para fazer o que quiserem sem ter a sombra do
governo em cima deles, ou seja, acontece o caos dentro da cidade e uma guerra
civil se arma nas ruas de Londres.
Após uma
viagem de LSD, Finch consegue se libertar de tudo que estava atormentando sua
cabeça e se vê livre. Ele volta para Londres e busca V e atira nele e lemos a
frase mais legal de toda a revista: “Não há carne ou sangue neste manto para
morrerem. Há apenas uma ideia. Ideias são à prova de bala”.
Com o
terrorista baleado ele vai até Evey e faz seus últimos pedidos: um funeral
viking e que não tire a mascara dele quando morrer. Ela entende que o símbolo é
mais importante do que quem veste a mascara e se torna o novo V que irá ajudar
o povo nesta nova trajetória.
Conclusões
Pra mim,
essa obra é tão bem amarrada e tão bem feita que ganha um lugar de muito
destaque na minha estante. Moore e Lloyd demonstram uma técnica aguçada no
ritmo da história. Existem histórias paralelas durante a história central que
são importantes para melhor entender tudo que acontece nessa distopia. Os
diálogos são extremamente bem escritos, o monologo do V com a estatua da justiça
é algo memorável.
Você
encontra referencias a todo o momento durante a leitura, sendo legal tu ir
lendo e ter um Google aberto para poder ver de onde Moore tira as ideias, e
olha que o cara vai longe.
Eu
comprei essa revista no relançamento que teve há alguns meses atrás e é um
investimento totalmente retornado, tamanha a experiência positiva. Ela custa
bem pouco e se tu não quiseres perder tempo indo para banca, corra até os
“becos da internet” e leia, mas pra mim nada supera ter o encadernado em mãos,
pois ele trás alguns extras bem legais, como por exmplo Introdução do Lloyd,
entrevista do Alan Moore, estudo de personagens e um glossário bem legal.
Espero
que gostem dessa primeira analise e em breve eu volto.
Até...